Fernanda Cascaes é uma querida amiga que foi minha aluna e hoje, mais que minha amiga, é minha “mestra”. Aluna, amiga e mestra,

ela tem me ajudado muito em meus trabalhos.  

Namoro na adolescência Fernanda Cascaes Teixeira

Psicóloga CRP 07/16625Mestre em Psicologia pela UFSC

Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFSC

fernandacascaesteixeira@gmail.com  

Crescer não é tarefa fácil. A adolescência é uma fase do ciclo de vida permeada por grandes transformações físicas e psíquicas.

Em geral, a perda do corpo e dos privilégios infantis, aliada a exigência social de fazer escolhas, cujas repercussões serão sentidas a médio e longo prazo, originam insegurança e sentimento de inadequação para o adolescente.

Os principais desafios que delimitam a passagem da adolescência para a vida adulta são: a criação de uma identidade profissional; a conquista da independência financeira e o desenvolvimento de relacionamentos íntimos.

As experiências amorosas na adolescência são extremamente marcantes (quem não lembra do seu primeiro namorado ou namorada?) e oferecem inúmeras possibilidades de aprendizagem.

As escolhas amorosas na adolescência tendem a ser realizadas não em função de características reais, mas de idealizações a respeito da “pessoa amada”.

Sob o efeito da paixão, é comum encontrar dificuldades para identificar comportamentos da outra pessoa que sejam considerados inadequados.

Em contrapartida, o adolescente tende a super-dimensionar as qualidades do parceiro, ou mais do que isso, a projetar no outro, qualidades que ele não tem.

Para desespero daqueles que estão a sua volta, em especial, seus pais e amigos, é comum que o adolescente despreze opiniões contrárias as suas em relação às qualidades e defeitos da “pessoa amada”.

Escrevo “pessoa amada” entre aspas porque em processos de idealização o que é “amado” não é a pessoa em si, mas a fantasia criada a respeito dela.Passada a fase de idealização, é possível identificar não apenas as qualidades, mas também os defeitos do parceiro.

A capacidade de relacionar-se com uma pessoa real e não mais com uma pessoal “ideal” é sinal de maturidade.

Relacionar-se com uma pessoa real significa ter que aprender a administrar as diferenças individuais.

Nem sempre o outro aprova aquilo que eu digo ou faço; nem sempre o outro quer fazer o mesmo que eu; nem sempre o que o outro diz ou faz é digno de admiração.

Mais importante que perguntar “concordamos em tudo?” é perguntar “o que fazemos quando discordamos?”.

Os comportamentos apresentados pelos adolescentes nos momentos em que existem conflitos no namoro dependem, em grande parte, dos modelos de relação oferecidos pelos casais das famílias de origem.

Se pai e mãe resolvem, constantemente, seus problemas conjugais aos gritos ou por meio do diálogo respeitoso é compreensível que o adolescente recorra aos recursos por eles utilizados frente a um problema com seu namorado ou namorada.

A riqueza da relação a dois reside no fato de que o outro possui modelos de interação diferentes e oferece ao parceiro não apenas a possibilidade de avaliar as aprendizagens desenvolvidas na família de origem, mas também de aprender novos tipos de interação.

O namoro possibilita ao adolescente ampliar seu repertório comportamental e, conseqüentemente, desenvolver novos recursos para administrar as diferenças individuais.

Outro benefício do namoro para o desenvolvimento dos adolescentes é a possibilidade de receber e oferecer suporte emocional.

Ao compartilhar suas experiências cotidianas os namorados recebem e oferecem incentivos em relação aos comportamentos que apresentam considerados socialmente adequados, e repreensões em relação aos comportamentos considerados inadequados.

Em função dessa troca de “juízos”, o adolescente, gradualmente, passa a desenvolver maior capacidade para avaliar que comportamentos são eficazes ou adequados não apenas em função de suas experiências anteriores, mas também em função das experiências do parceiro.

É importante ressaltar que na adolescência o feedback oferecido pelo namorado ou namorada será, provavelmente, melhor aceito e aproveitado pelo adolescente do que o feedback oferecido por seus pais.

Isso acontece porque as relações de poder entre os namorados são, em geral, mais equilibradas do que as relações de poder entre pais e filhos.

É fácil para o adolescente exigir que o namorado ou a namorada se comporte de determinada maneira para melhor lhe agradar.

Difícil é ser generoso a ponto de, ao se comportar, considerar e respeitar os sentimentos do outro.

O tão almejado segredo para o estabelecimento e manutenção de relações felizes não é encontrar a pessoa certa, mas SER a pessoa certa.

A “pessoa certa” é aquela que está disposta a aprender a amar cada vez mais e melhor, cuja felicidade está atrelada ao sorriso e ao bem-estar do outro.